domingo, abril 27, 2008

李振藩 CAPITULO CXIV: serviço

Ontem, depois de um jantar caribenho, que aculturadamente começou às 6 da tarde e acabou às 10, regressei a casa para fazer um tempo antes de seguir para a noite. Como de costume, os sapatos não "entram" em casa. Mas ontem, pela opção ser voltar a sair, não os guardei no armário que fica do lado de fora. Vê mail envia mail, "mama" um episódio da 4ª série do Lost, faz tempo e acabei por "aterrar" lá para a volta das 24. Hoje de manhã, ao sair de casa, os sapatos ainda lá estavam. Com uma mensagem dactilografada:

Dear owner/tenant:

Our security guards detected that your shoes are placed in front of the door while they were on patrol, they pressed the doorbell imediately, but there is no one in your home [esta parte digo desde já que é falsa porque estava gente em casa e de certeza que a roncadeira não era pouca!]. So, for your prevention of being stolen, please put your shoes in your unit. Thank you for your co-operation!

É por estas e por outras que pago 1000 euros de casa por mês. Para um marketeer o serviço não tem preço.

Aquele abraço reconhecido,

司辉 逸


李振藩 CAPITULO CXIII: ciganomanias

Eu não gostava de ter um chinês por inimigo. É verdade que são baixotes, franzinos, um tanto ou quanto "grunhos", indefesos, mas quando se juntam são piores que os ciganos. Bem me lembro na preparatória como é que era quando havia "fruta" com ciganos: vinha o pai, a mãe, a irmã, o primo, todos e mais alguns e quando "davas por ela" já era 2 dúzias de pessoas a mais e meia dúzia de dentes a menos. Aqui a estória é mais ou menos parecida, com o facto de as 2 dúzias rapidamente passarem a 4, 8, 16, 32 e por aí em diante, fazendo uns milhões em tempo recorde. Não se partem dentes nem se puxam cabelos, não há peixaria explícita, mas as consequências são globalizáveis.

Depois do incidente da tocha olímpica em Paris, em nome de um Tibete Livre (tenho hoje uma opinião mais adulta da trindade Dalai Lama-Partido-Tibete e diga-se em abono da verdade que muita asneira se conta por aí), onde um tibetano de Salt Lake City tentou roubar a tocha a uma chinesa em cadeira de rodas, muito acontecimento diplomático se desencadeou. O mayor de Paris hasteou a bandeira do Tibete, os anéis olímpicos viraram algemas em fundo fúnebre, foi atribuída cidadania francesa ao Dalai Lama e os franceses saíram à rua para protestar. Bem ou mal, não foi certamente sábio - não tenho as contas feitas para quantas vezes me apeteceu trocidar um cigano em pleno intervalo, o gozo seria orgásmico, mas de curta duração e recheado de efeitos colaterais. Em pouco mais de 24horas, começaram a circular sms, emails, cartazes a mobilizar a nação chinesa para deixar de fazer compras no Carrefour (o Carrefour tem só 150 hipermercados na China e é o maior retalhista multinacional aqui) e evitar comprar tudo o que seja francês, Louis Vuitton, Channel, L'Oreal, Carrefour, Renault, Peugeot e mil e uma marcas mais. Atenção que a China não tem o tamanho de Portugal e o Made in Indonesia da altura do Timor Livre é uma brincadeira perto disto.

Fui a semana passada ao Carrefour aqui junto a casa - uma dos hipermercados que mais factura aqui em Shanghai - e tirando meia dúzia de moscas só estavamos lá 3 ou 4. A maioria dos grandes parceiros multinacionais (Unilever incluída) anulou já investimento massivo que estava programado até Agosto e não sei bem onde é que isto vai parar. A direcção do Carrefour já manifestou o apoio aos Jogos e à integridade territorial da nação chinesa, mas depois de tanta "asneira" em Paris, as coisas não estão fáceis. A acrescentar a isto, está já disponível na internet para quem quiser ver toda a vida do suposto tipo que tentou roubar a tocha em Paris (eu avisei que eles são piores que os ciganos!), um tal de Lobsang Gendun. Desde nome, idade, morada, matrícula do carro, estado civil, profissão da mulher e escola onde estudam os filhos, até um mapa do Google Maps com a sua residência (não a actual, porque segundo consta o "menino" está escondido num hotel sem acesso a comunicações e com guarda-costas 24 horas por dia), está lá tudo.

Não sei se neste caso partir dentes vai levar mais tempo do que destruir modernos impérios do consumo, mas com uma família de 1.3 biliões de pessoas está provado que não se brinca.

Aquele abraço made in China,

司辉 逸




terça-feira, abril 15, 2008

李振藩 CAPITULO CXII: marketing não-convencional

Das coisas que mais prazer me dá em trabalhar na China é saber que aqui tudo é possível. Por mais merda que eu possa fazer neste país, enquanto marketeer, sei que haverá sempre alguém a fazer pior. Aliás, essa é a outra coisa que realmente me dá prazer em trabalhar aqui: é que a noção de pior (ou de melhor, para os positivistas) não existe. Aquilo que se ensina nas escolas na Europa ou que se pratica nas melhores empresas americanas e que se transforma mais tarde em case studies, não passa efectivamente de balelas e hoje, mais do que nunca, estou convencido de que com meia-dose de pragmatismo qualquer um faz marketing.

Ontem fui às compras ao Carrefour e dei de caras com esta promoção estonteante: compre este anti-traças leve grátis uma pasta de dentes Colgate. Para meu espanto, estes tipos - uma marca que desconheço - estão a vender que nem pãezinhos quentes. Talvez afinal eu não seja feito para isto.

Aquele abraço segmentado, com posicionamento correcto, localizado na matriz BCG e com spot na televisão,

司辉 逸


segunda-feira, abril 14, 2008

李振藩 CAPITULO CXI: da minha língua vê-se o mar

Sempre achei que portugueses anónimos fazem bem mais pelo país do que a fraca diplomacia que espalhámos pelos 4 cantos do Mundo. Cabe ao Estarreja esta pérola de portugalidade. Depois disto muita gente ficou a saber que Portugal é na Europa, que se fala português e não espanhol, que temos boa comida e boa música e que a trabalhar no engate há poucos a passarem-nos a perna. Sabendo como sei que grande parte dos ouvintes do spanishpod estão nos EUA, fizemos também um favor à cultura geral.

Luis Estarreja (português em Shanghai) estrela no SpanishPod

Aquele abraço da casa,

司辉 逸

domingo, abril 13, 2008

李振藩 CAPITULO CX: paixão

Há quem leve a "moda" bastante a sério. E há quem faça da "moda" um exercício familiar de recorte diário. Continuo a encantar-me com as mães que, com medo de perderem a temporalidade da sua juventude, lutam por se manter actualizadas copiando o estilo das filhas ou das filhas que com vontade de serem "senhoras" antes do tempo se disfarçam de mães. Com isto vai-se conseguindo eliminar o gap inter-geracional e enganar a pirâmide etária.

A caminho de Taiwan, na semana passada, conheci um extraordinário exemplo desta siamesa relação mãe-filha e do que gostar duma cor significa. Conheci-as à ida e despedi-me delas à chegada, 3 dias depois, e em ambos os momentos a mesma cor de guarda-roupa: o lilás. A fita do cabelo, a mala, as calças, os ténis, as meias, a carteira, a t-shirt, o gancho, os cordões, o cinto, a maquilhagem, o forro do casaco, o casaco, o telemóvel, o porta-chaves.

Para todos aqueles que levam a paixão ao extremo, aquele abraço colorido do vosso

司辉 逸