quinta-feira, outubro 25, 2007

李振藩 CAPITULO XCI: usucapião

Com a recente transformação no ICEP - que passou a AICEP (mais uma vez a velha lenga lenga da mosca) - mudaram-se os cargos, as contas bancárias, entre muitas outras coisas e ouvi dizer (sim, ouvi apenas) que saiu um email da nova responsável do programa CONTACTO a dar conta de que os portáteis que nos foram entregues no início do estágio e que em jeito meio informal até nos tinham passado a ideia de que por uma espécie de usucapião ficariam em nossa posse terminado o mesmo parece que vão ter de ser devolvidos. Como é natural, a "rapaziada" ficou em estado de choque a precisar de desfribilhador e começaram a sair disparates em catadupa, de alguns a dizer que não devolvem, outros a dizer que vão faltar à cerimónia de encerramento em jeito de protesto e mais umas quantas bardoadas afinal de contas da "nata da nata" como sempre nos trataram. O mais grave disto tudo é que como de costume, com a "tesão do mijo", a "rapaziada" não leu o contrato. E depois saem destas "frutas", inclusivé de advogados-juízes que fazem parte da dream team deste ano e que a avaliar por esta situação específica querem tratar este contrato como uma espécie de jurisprudência.

Mas no meio de tanta nata, parece que ainda há os que têm a cabeça suficientemente pasteurizada para olharem para aquilo que assinaram e elucidarem quem não sabe. Passo a transcrever, com a natural discrição que a situação exige:

"Boa tarde a todos.

Passo a transcrever o Termo de Responsabilidade que acabei de encontrar no meio da confusão do meu quarto:

Eu, nata nr.139, estagiário do Programa Inov Contacto, declaro que recebi um microcomputador portátil (...).

Findo o período de estágio, asseguro a sua entrega imediata ao ICEP Portugal (...) ou caso contrário, o valor de aquisição (1250 euros)

Posto isto, e partindo do princípio que todos assinaram a declaração, resta nos calar e comer.

Naturalmente ninguém está interessado em devolver o PC, muito menos depois das promessas feitas pela Vera Sousa Macedo. Eu portei me lindamente, fiz a cama todos os dias e lavei sempre as mãos antes do jantar, logo acho que mereco manter o PC. Mas como regras são regras teremos de as cumprir. Podemos falar com a nova responsável e tentar chegar a um entendimento, mas parece me muito difícil. Como sabem o AICEP não nada em dinheiro e como tal não me parece que voltem atras nas suas intenções de nos retirarem o material escolar.

Petições ou emails apoio, não custa tentar. Birras, deixar andar e coisas do género já não concordo. Entrámos no programa e sabiamos as regras. Se não as cumprirmos não podemos exigir que os outros as cumpram.

Quanto ao período de 30 dias, será, para muitos de nós, impossível de respeitar uma vez que estamos fora do país. Nesse aspecto o AICEP terá de esperar. Em relação à cerimónia de encerramento, confesso que não percebo o porquê de tanta animosidade. Entrámos no programa, temos orgulho em fazer parte dele (independentemente das falhas que possam existir) e agora ninguém quer ir à cerimónia? Nem que seja para rever amigos e partilhar aventuras. Espero que a mesma não se realize em Dezembro porque não poderei estar presente, mas se isso acontecer, espero que todos compareçam. Caso isso não aconteça, começam a existir motivos para nos tratarem como crianças que fazem birras e não aparecem na cerimónia porque nos pediram (como estava previsto) os computadores.

Sem mais de momento e esperando que não me odeiem, abcs e bjs a todos, vemo nos em Portugal...sem computadores."

Para que conste, o meu portátil já foi entregue e a transferência de 5000 euros por abandonar o programa CONTACTO antes do tempo vai a caminho. E sim, vou fazer birra e não vou aparecer na cerimónia de encerramento, seja ela em Dezembro ou em Janeiro.

Porque não tenho pais ricos nem ganhei a lotaria, aquele abraço crescido,

司辉逸

PS: nata nr.139, vais fazer falta por estas bandas!

domingo, outubro 14, 2007

李振藩 CAPITULO XC: mais uma! (parte II)

O despertador toca e doem-me as costas de dormir no chão, neste tatami mal amanhado a 2000 yenes a noite, junto à estação dos comboios. Arrumo o resto da roupa suja na mochila e bato à porta da "despensa" onde dormiu o Kid e o Matos&Silva. Descemos 3 no elevador onde só cabem 2 mas acho que nenhum de nós está mal. As consecutivas noites mal dormidas, os litros de saké que se beberam, os km que se percorreram sem um objectivo em pura deambulação, as estórias infindáveis desta semana, o karaoke e as conversas para alinhar o próximo destino, levam o sangue para o cérebro e anestesiam-nos o corpo inteiro.

Conto pelos dedos de um quinto de uma mão os sítios que me provocam este arrepio. Parece que fui meio figurante meio actor principal numa saga que durou 9 dias. Cheio de efeitos especiais, muito high tech e realidades paralelas. Este país é das coisas mais fascinantes onde pus os pés. Um país onde o jardineiro que cuida dos bonsai do templo shinto o faz com a mesma dedicação do seu primeiro dia, onde vejo TV no telemóvel, onde tudo é impecável, onde chamar-te "individualista" é uma ofensa tão grande como um "filho da puta" de boca bem aberta, onde as geishas e as miúdas vestidas de bonecas de porcelana saúdam o Elvis no parque e onde o punk que meteu à boca um sushi de 525 yenes sairá de casa amanhã bem cedo vestido de fato Armani e gravata 5 estrelas. Onde todos cagam numa sanita aquecida com botões que espincham água para nos limpar o cú, onde morar-se em 15m2 é coisa boa, onde a lógica de negócio não é encurtar distâncias entre bancos de comboio para optimizar lucros mas alongá-la para eu me sentir bem. Onde é possível cruzarmo-nos com milhões de pessoas em Shibuya, todas ao mesmo tempo, e ouvir apenas o motor do híbrido que faz marcha atrás.

Este é também o país onde a coincidência é apenas mais uma surpresa no meio de milhares de tantas outras, onde fomos encontrar portugueses num bar em Osaka, noites com vontade de descanso em autêntico revéillon, onde o Sr. Engenheiro nos ensina economia portuguesa, nos elucida sobre as opções do governo, sobre A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, entremeado com a doutrina dos Yakuza e o fascínio de se viver em Tokyo, salpicado com ensinamentos de arte equestre e do que significa apostar no cavalo errado.

Este é ainda o país do qual julguei que ia embora hoje. Mas prenderam-me por mais 24 horas, por causa dum tufão em Shanghai. E conto cuidar destas 24, uma a uma, com a dedicação com que o jardineiro do parque apara a relva onde o puto faz mais um homerun.

Aquele abraço colectivo,

司辉逸


domingo, outubro 07, 2007

李振藩 CAPITULO LXXXIX:mais uma

Osaka, 8 de Outubro de 2008, 00h27m,

Estou a 12 horas do final de mais uma viagem epica. Daquelas que me fazem acreditar que o homem nao e feito para trabalhar mas para viajar. Depois de uma semana no Japao sinto ja saudades do que ainda nao abandonei, de um pais que teima na tradicao de ser diferente de tudo aquilo que para mim e senso comum.

Um abraco pausado em venia,

Bom San