O despertador toca e doem-me as costas de dormir no chão, neste tatami mal amanhado a 2000 yenes a noite, junto à estação dos comboios. Arrumo o resto da roupa suja na mochila e bato à porta da "despensa" onde dormiu o Kid e o Matos&Silva. Descemos 3 no elevador onde só cabem 2 mas acho que nenhum de nós está mal. As consecutivas noites mal dormidas, os litros de saké que se beberam, os km que se percorreram sem um objectivo em pura deambulação, as estórias infindáveis desta semana, o karaoke e as conversas para alinhar o próximo destino, levam o sangue para o cérebro e anestesiam-nos o corpo inteiro.
Conto pelos dedos de um quinto de uma mão os sítios que me provocam este arrepio. Parece que fui meio figurante meio actor principal numa saga que durou 9 dias. Cheio de efeitos especiais, muito high tech e realidades paralelas. Este país é das coisas mais fascinantes onde pus os pés. Um país onde o jardineiro que cuida dos bonsai do templo shinto o faz com a mesma dedicação do seu primeiro dia, onde vejo TV no telemóvel, onde tudo é impecável, onde chamar-te "individualista" é uma ofensa tão grande como um "filho da puta" de boca bem aberta, onde as geishas e as miúdas vestidas de bonecas de porcelana saúdam o Elvis no parque e onde o punk que meteu à boca um sushi de 525 yenes sairá de casa amanhã bem cedo vestido de fato Armani e gravata 5 estrelas. Onde todos cagam numa sanita aquecida com botões que espincham água para nos limpar o cú, onde morar-se em 15m2 é coisa boa, onde a lógica de negócio não é encurtar distâncias entre bancos de comboio para optimizar lucros mas alongá-la para eu me sentir bem. Onde é possível cruzarmo-nos com milhões de pessoas em Shibuya, todas ao mesmo tempo, e ouvir apenas o motor do híbrido que faz marcha atrás.
Este é também o país onde a coincidência é apenas mais uma surpresa no meio de milhares de tantas outras, onde fomos encontrar portugueses num bar em Osaka, noites com vontade de descanso em autêntico revéillon, onde o Sr. Engenheiro nos ensina economia portuguesa, nos elucida sobre as opções do governo, sobre A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, entremeado com a doutrina dos Yakuza e o fascínio de se viver em Tokyo, salpicado com ensinamentos de arte equestre e do que significa apostar no cavalo errado.
Este é ainda o país do qual julguei que ia embora hoje. Mas prenderam-me por mais 24 horas, por causa dum tufão em Shanghai. E conto cuidar destas 24, uma a uma, com a dedicação com que o jardineiro do parque apara a relva onde o puto faz mais um homerun.
Aquele abraço colectivo,
司辉逸
Conto pelos dedos de um quinto de uma mão os sítios que me provocam este arrepio. Parece que fui meio figurante meio actor principal numa saga que durou 9 dias. Cheio de efeitos especiais, muito high tech e realidades paralelas. Este país é das coisas mais fascinantes onde pus os pés. Um país onde o jardineiro que cuida dos bonsai do templo shinto o faz com a mesma dedicação do seu primeiro dia, onde vejo TV no telemóvel, onde tudo é impecável, onde chamar-te "individualista" é uma ofensa tão grande como um "filho da puta" de boca bem aberta, onde as geishas e as miúdas vestidas de bonecas de porcelana saúdam o Elvis no parque e onde o punk que meteu à boca um sushi de 525 yenes sairá de casa amanhã bem cedo vestido de fato Armani e gravata 5 estrelas. Onde todos cagam numa sanita aquecida com botões que espincham água para nos limpar o cú, onde morar-se em 15m2 é coisa boa, onde a lógica de negócio não é encurtar distâncias entre bancos de comboio para optimizar lucros mas alongá-la para eu me sentir bem. Onde é possível cruzarmo-nos com milhões de pessoas em Shibuya, todas ao mesmo tempo, e ouvir apenas o motor do híbrido que faz marcha atrás.
Este é também o país onde a coincidência é apenas mais uma surpresa no meio de milhares de tantas outras, onde fomos encontrar portugueses num bar em Osaka, noites com vontade de descanso em autêntico revéillon, onde o Sr. Engenheiro nos ensina economia portuguesa, nos elucida sobre as opções do governo, sobre A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, entremeado com a doutrina dos Yakuza e o fascínio de se viver em Tokyo, salpicado com ensinamentos de arte equestre e do que significa apostar no cavalo errado.
Este é ainda o país do qual julguei que ia embora hoje. Mas prenderam-me por mais 24 horas, por causa dum tufão em Shanghai. E conto cuidar destas 24, uma a uma, com a dedicação com que o jardineiro do parque apara a relva onde o puto faz mais um homerun.
Aquele abraço colectivo,
司辉逸
1 comentário:
A esse País eu gostava de ir!
À China não sei não, talvez Shangai, Pequim e Hong Kong, mas ao Japão não tenho quaisquer dúvidas que ia adorar...
Abraço deste lado do mundo,
Paulo Gomes da Silva
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