domingo, fevereiro 04, 2007

李振藩 CAPITULO IV: 66 Qing Dao Lu

Mais de 20 casas depois, acho que é isto. Entrámos no lobby, bom nível, LCD à entrada, um trio de sofás à espera de visitas. Subimos o elevador até ao 22º andar, apartamento 2202. A chave rodou 2 vezes (estava com receio que fosse mais um apartamento "à chinês", de péssimo mau gosto, acabamentos impróprios e materiais terceiro mundistas...), mas parece que não...

Tudo começou três dias antes. A forma mais simples de encontrar casa em Shanghai é contactar agentes que se espalham pela trama urbana desta cidade. Quem já cá estava fez-nos o favor de arranjar uns contactos avulso que com um telefonema agendam no imediato algumas visitas a casas para alugar, que cumpram os critérios de orçamento, localização e número de divisões que queiramos. Já que estamos em Shanghai que seja "à patrão". Como sempre o disse.

Conhecemos quase tantos agentes como casas. Amy's, Mary's, John's, todos têm nomes ingleses. É uma espécie de "nome artístico" a que o negócio vai obrigando. O Hua Fèng não aderiu. Um chinês do interior, que para fazer pela vida pegou nas malas aos 23 e rumou a Shanghai. O inglês que sabe aprendeu-o de há 2 anos para cá, na internet, num motor de busca linguística, colocando palavras em mandarim e procurando a sua tradução. É isto que impressiona neste povo: a força de vontade. Entre visitas, vamos aproveitando para fechar alguns assuntos: cartão de telemóvel, internet, conta bancária. O Fèng faz questão de ajudar, enquanto middle man. E não é pela gorjeta, porque cá não só não se usa como até pode ser mal interpretada. É simples vontade de se sentir útil e de continuar a conviver com estes "tugas" que acabaram de chegar e que parecem fazer com que o dia dele corra mais depressa. A negociação tem sido complicada. O preço que nos pedem não serve. A casa é excelente mas não justifica. Acabámos às 20h por ir aos escritórios, porque negociar de pé poderia levar a que fôssemos vencidos pelo cansaço. Estes dias de convívio ajudaram-me a perceber um pouco melhor até onde posso ir na confiança com este povo e especificamente com o Fèng. A ideia aqui é ver até onde é que a agência se chega à frente, porque a comissão deles é 40% da primeira renda. Ao mesmo tempo, uma piada aqui e ali ajuda a quebrar o gelo e pode facilitar nesta altura. Abro a brochura que está em cima da mesa. VIP SERVICE diz. "A Real Estate ONE tem à disposição dos seus clientes um BMW 730 para as deslocações aquando da assinatura do contrato".
Fèng, quero isto para nós,
disse assertivo.
Além disto quer que me arranjes o melhor mapa de Shanghai que encontres.
E uma máquina de água, como as que têm os escritórios.
Ah, e internet também, já para daqui a 2 dias.

O Fèng franziu o sobrolho, enquanto sorria. Estes portugueses são doidos, tenho a certeza que pensou. Entre as talvez 10 chamadas que fez para a senhoria a tentar fechar o preço final, que lhe pedimos, rabiscava no caderno, sinal de algum desconforto. Não ligou muito aos nossos pedidos, quis-me parecer. E não fechou o preço.

No dia seguinte, era hora de almoço. A chamar:Fèng, denunciava o telefone. Temos o preço, gritou. 'Tá feito! No dia seguinte, combinámos às 9h30 para assinar o contrato. Às 9h20 recebo uma mensagem do Fèng: estamos cá em baixo com o taxi. Ainda demorámos uns 20 minutos a descer do pequeno almoço. E voilá. Abriram-nos as portas do BMW e seguimos. (http://www.youtube.com/watch?v=BSOjnsYy9rg)

Todo o tratamento foi irrepreensível. Das portas do BMW seguimos para as portas de uma van, com direito a motorista e intérprete. O chefe foi peremptório: o vosso dia é ajudar estes 2 senhores. Fomos ao hotel buscar as malas, levá-las a casa, comprar mobília ao IKEA, compras no Carrefour. A disponibilidade foi impressionante. Preocupado com o andar das horas perguntei à Sisi (Si é 4 em mandarim. É uma miúda engraçada, com piada. Não tem outra cara que não seja a rir. Disse-me que o irmão se chama SanSan (3-3 em mandarim) e que a irmã se chama èrèr (2-2). O que quer que aí venha a seguir escasseia concerteza em originalidade.
Preocupado com a hora tardia pergunto à Sisi e ao motorista se não preferem ir para casa que nós tratamos das últimas coisas. Não, não. Vamos à hora que fôr.

Chegamos finalmente a casa, carregados de sacos. Vamos montando as primeiras coisas, para começar a ficar com um toque pessoal. Em cima da mesa, o mapa que pedi ao Fèng. Já ligada à corrente, a máquina da água. E amanhã às 10h chega a internet.

Encosto-me na cama. À minha frente estende-se Shanghai, vista de noite, no seu melhor perfil. Encosto-me um pouco mais e a vista começa a pesar. Estes 9 meses prometem.

Amanhã às 10h aparece aí o Fèng para se colocar a internet. Acabará por ficar mais um pouco porque diz que quer ser nosso professor de mandarim, em troca de uma ajuda no inglês. Vamos acabar a almoçar numa tasca shanghainesa. Galinha crua no menú.

Mas por agora refastelo-me nesta cama queen size. No horizonte, alguns vultos que me lembrariam Portugal, não fosse eu estar no número 66 da Qing Dao Lu...




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