Exma. Sra. Dra.,
esta carta aberta já vai longa. É um facto. Tenho denotado uma queda nas visitas ao blog ultimamente - porque apesar de uma teorização interessante esta conversa tem eventualmente significado apenas para nós e outros que, como eu, fizeram o programa (estes até ao fim) - e como estou a pensar colocar uns banners do google advertising para ver se ganho uns "soldos" há que puxar as estatísticas lá para cima.
Considerações à parte, vamos mais uma vez ao que interessa.
Ao fim de 4 tomos e meio chega de demagogia barata, dizem alguns, porque afinal de contas isto de dizer mal é fácil mas fazer melhor é que eu gostava de ver. Se gostava de ver, basta olhar já aí para o lado. Infelizmente mais uma vez o exemplo não vem de cima mas vem do lado - Espanha. E permita-me que refira que, se não sabe fazer melhor, ao menos copie. Com a mesma matreirice camuflada com que copiamos nos testes do ICEP - que de tão difíceis e decisivos que são não nos resta outra alternativa. Desabafos à parte, e depois de me ter superlativamente informado junto de alguns castelhanos, aqui fica a objectiva resenha do que é fazer um programa CONTACTO espanhol em Shanghai (de agora em diante pCeS) patrocinado pelo tio Zapatero:
1.Recrutamento 1 ano antes.
Todos aqueles que queiram concorrer ao programa candidatam-se um ano antes. Por uma razão simples: porque todos os seleccionados terão de fazer um mestrado em relações internacionais com duração de um ano, pago integralmente pelo Estado. Acho que não necessita de justificações explicativas do foro dos "porquês".
2."Aprendes e acabou-se".
Com a mesma intensidade diplomática das ditaduras e com faro de oportunidade, quem quer vir para Shanghai tem de aprender chinês. Para isso, todo o estagiário é recambiado 3 meses antes para cá para um curso intensivo, antes de começar o estágio. Porque perceber uma cultura e trabalhar num país destes implica sacrifícios, e esse é definitivamente um dos que vale a pena e que que o nosso país pode capitalizar a médio prazo. Isto de querer vir vender vinhos, conservas e cortiça para a China com um grau de First Certificate no bolso, sabendo fazer umas tabelas e uns gráficos de Excel com a ajuda do menú Help e uns efeitos engraçados de Powerpoint é lixo. Se o mandarim não é obrigatório e acha que o inglês é suficiente mande-nos para Hongkong. Se preferir o português, também ach0 que se está bem em Macau.
3.Primeiro trate-se de nós, depois dos outros.
Para ser sincero consigo nunca percebi muito bem porque "carga de água" muitos de nós calhamos a fazer estágios em empresas estrangeiras. Veja bem o meu caso, que acabei na Alcatel-Lucent em Shanghai (a maior empresa de telecomunicações do mundo, franco-americana) quando podia perfeitamente ter dado bem mais, por exemplo na delegação local do ICEP. Pois, é isso mesmo que fazem os espanhóis: todos os estagiários são direccionados para a delegação de Shanghai e cada um deles fica responsável pela dinamização de um dossier comercial, que terá uma avaliação posterior. Por falar em avaliações, duvido que algum dos nossos gestores de conta tenha pelo menos uma noção nanométrica do que fazemos por cá. Podemos perfeitamente andar a ver episódios de Prisonbreak em horário de expediente - como foi o meu caso, explorar o Estado português em 2000eur/mês e levar uma vida de lord sem que ninguém se aperceba. Como sabe o meu caso não é sequer tão crítico nem financeiramente desastroso para si, porque tive o inconformismo suficiente para me despedir ao final de 5 meses e reembolsar o ICEP em quase 5000euros. Mas para todos os outros que por aí andam espalhados pelo Mundo - de dedo no ar arrisco facilmente uns 80% - que passam o dia a contar "carneirinhos", o caso pode ser diferente e o investimento rapidamente passa a custo afundado. Pelo menos no ICEP tenho a certeza que há muito trabalho para se fazer.
Continuando...os espanhóis ficam a trabalhar para o Estado na delegação local do ICEP espanhol durante esse ano, são avaliados trimestralmente e no final só ficam os melhores, desta feita a trabalhar cá por um período até 5 anos em empresas espanholas ou estrangeiras, onde metade do salário será sempre pago pela empresa - no nosso caso, como sabe, o Estado comparticipa a 100%, o que também não ajuda muito a que as empresas vejam em nós um activo que devem capitalizar, diga-se em abono da verdade.
4.Mentalidade tacanha.
Não tenha dúvidas acerca da tacanhez generalizada que se vive nesses corredores do ICEP. Exemplos como "se forem apanhados fora do país onde estão durante o período de estágio serão automaticamente expulsos do programa", pronunciados repetida e orgulhosamente pela sua precedente no CGI, dão-me a volta à tripa. Mas acha mesmo que um tipo que calhou em Bruxelas vai lá ficar 9 meses sem sair? E será que a razão do seguro de saúde estar limitado ao país de estágio é razão suficiente. Estarei enganado ou o programa é para idades acima de 18, pessoal crescido e vacinado que sabe o que quer da vida e não precisa de falsos moralismos? Porque não nos esqueçamos por 1 segundo que a essência do programa é expandir horizontes, reciclar mentalidades e promover o nome de Portugal. Em jeito de confissão dominical posso assegurar-lhe que foi exactamente isso que fiz. E só não o fiz mais porque infelizmente 2000 euros dá para ser rico mas não milionário.
A bem do programa - que já "correu aí pelos corredores está para acabar" - esperando que copie tudo isto depressa, com orgulho e que me dê direito a uma simpática menção de agradecimento quando fizer o discurso de lançamento, leve aquele abraço do,
Messias