domingo, novembro 18, 2007

李振藩 CAPITULO XCIV: Carta aberta (Tomo II)

Exma. Sra. Dra. Bobone,

Volto a pedir desculpas, porque embora já saiba o seu nome (esta semana de ausência foi preenchida a desdobrar-me em emails e telefonemas para tornar o nosso contacto mais intímo), não tenho a certeza absoluta da correcta forma de a escrever - Bobonne, Bobone ou Bobbone. Por outro lado, como também compreenderá, a associação à sua icónica familiar Paula (como já frisei tenho hoje a certeza que todos somos família) obriga-me, por declinação, a proceder em boas maneiras. Com a devida vénia de retirada, vamos então ao que interessa.

Depois de, julgo que de forma clara, ter exposto as minhas preocupações quanto à cartilha que parece que por aí se vai seguindo, deixe-me levantar um outro problema que julgo que não terão ponderado - objectivos.

Desde muito puto percebi que fazer coisas sem objectivo é a melhor forma de aliviar o stress. Deixar andar é uma receita extraordinariamente relaxante para esperar nada. Mas um pouco mais tarde percebi também que quando se mete ao barulho dinheiro vivo o melhor é ter objectivos, e de preferência ambiciosos, caso contrário podemos acabar a pagar a dívida a dobrar. E mais recentemente, desde que pago impostos, fui forçado a perceber que se alguns "malandros" andam por aí a investir o meu capital, então é bom que tenham objectivos bem definidos e que me apresentem contas trimestrais. Ora é exactamente este o ponto que eu queria debater. Começo por pedir-lhe que pegue na calculadora e faça um conta simples: 200*2000*12*10. Dá, como vê, a bonita soma de 48 milhões de euros. Não, não é o jackpot do Euromilhões: é, grosso modo, o dinheiro que em 10 anos se gastou em bolsas do Programa Contacto.

Sou o primeiro a admitir que é dinheiro muito bem gasto. O programa é, na minha opinião, das melhores decisões estratégicas que se tomaram em Portugal. Mas, simultaneamente, uma das mais mal geridas. O programa Contacto é, tal como um MBA pago por uma empresa, um investimento num recurso, que se espera com potencial de retorno. Agora imagine as McKinsey's e BCG's deste mundo a pagar MBAs a "torto e a direito" - daqueles que custam alguns 150 mil euros em Harvard - e ver a rapaziada ao final de 2 anos a regressar ao posto e a dizer :"Chefe, obrigado pelo MBA! Foi uma maravilha! E já agora aproveito para lhe dizer que hoje é o meu último dia porque recebi uma proposta porreira para ser general manager da empresa X, onde os gajos me oferecem 3 vezes mais, agora que vim de Harvard." E com isto diz o chefe: "Epá, fico contente por ter investido em ti ao longo destes anos todos. Aliás, és o terceiro gajo que me diz isso hoje, é sinal que vocês são bons. Fico orgulhoso. A ver se vamos beber aí uns copos para celebrar." E é ver o CEO, o CFO, o CMO, o CTO e o Gestor de Recursos Humanos que o tinha recrutado há dois ou três de anos, com toda a maralha, a ir beber copos depois de torrarem o dinheiro dos accionistas num "tipo" que se vai embora no exacto momento em que devia começar a "produzir".

Ora bem, o Contacto é, perdoe-me a analogia, uma espécie de MBA a fundo perdido. É a rampa de lançamento ideal para irmos depois trabalhar para outro lado onde podemos ganhar mais. A única diferença é que é um MBA pago com os impostos de todos nós. E sendo dinheiro investido em capital português, deveria ter um vínculo contratual posterior, para evitar que fiquemos indefinidamente no estrangeiro a contribuir para um qualquer PIB e nos alheemos de contribuir para o nosso próprio país.

Com tacto de negócio, vai ver que ainda põe o programa a dar dinheiro. Mas agora não pense muito nisso. São 15 horas de sexta-feira em Portugal, deve ser hora de ir de fim-de-semana.

Até segunda às 11 da manhã, depois do cafézinho,

司辉逸

(P.S.: Tomo3 a sair...)

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