domingo, julho 12, 2009

Diário de Viagem - dia 2

11 de Julho de 2009,

Acordei cedo mas fiquei na ronha. Lá fora chovia consistentemente enquanto as ruas, apinhadas de gente, continuavam a sua rotina de apenas mais um dia. Acabo de receber uma mensagem do Sanjeev Mehta - director da Shopworks aqui na India e amigo do João Barbosa, meu amigo de Shanghai:
“Come to: Otters Club, Carter Road, Bandra West. Ask the taxi guy to bring you via the new bandra-worli sealing bridge. Call me anytime in case you get lost or the taxi driver needs directions in local language. Will be there at 1 pm. Cheers, Sanjeev.”

No dia anterior já tinha entrado em contacto com o Sanjeev. Desde logo me pareceu um tipo muito porreiro e acessível que fazia questão de repetir “Benvindo a Bombaim”, sabendo que isso me faria sentir mais em casa. Já um pouco atrasado saí do hotel rumo a Bandra, num táxi desta vez conduzido por um muçulmano de cabelo e barba cor-de-laranja. Por entre uns disparos de flash ao longo da marginal, uns olhares curiosos pelo espelho retrovisor e uns comentários empolgados que fazia da cidade, quase ficámos amigos. Passámos pela nova ponte, inaugurada há uma dúzia de dias, aparentemente uma excelente obra de engenharia, e com 5 minutos de atraso lá chegámos, depois de 50 minutos de travessia.

Tinha acabado de receber mais uma mensagem do Sanjeev a desculpar o facto de precisar de mais de meia hora para lá chegar já que tinha ficado preso numa reunião. Como só poderia entrar acompanhado por membros, fiquei sentado junto à recepção. Este era evidentemente um local elitista, apenas acessível à nata da nata de Bombaim. Embora num edifício raso que mais parecia uma sanzala tropical envelhecida do que um clube de elite, o amontoado de gente distinta que se passeava por ali, as raquetes de squash, a piscina limpa, os seguranças fardados e a quantidade de mulheres bem vestidas, pintadas e penteadas não deixam margem para dúvidas. Uma delas chama os filhos para a mesa enquanto cumprimenta um estranho que se aproxima - era o Sanjeev.

Descobri mais tarde que marcou encontro neste local por estar perto de casa, mas a razão poderia tão simplesmente ter sido a qualidade do repasto. Talvez a impressão que deixei à mesa não tenho sido a melhor, tal foi a violência com que lancei as mãos às costeletas de cordeiro e pernas de frango tandoori, às rodelas de cebola (as rodelas de cebola estão presentes em quase todas as refeições, um pouco como o pão está à nossa mesa quase sempre) e ao roti que acabou de chegar, mas o Barbosa já o tinha alertado para o facto dos portugueses se empolgarem perante boa comida.

O Sanjeev tem ar de Chuck Norris de Bollywood. Cabelo raso de risca ao meio com gel, umas calças de ganga meio apertadas por cima dumas botas castanhas e um polo às riscas brancas, azuis e amarelas. Tem dois ou três dentes forradas a ouro, uma pêra de barbicha e é um daqueles casos em que a voz não condiz com a cara. É difícil de acreditar que tem já 43 anos - não diria mais de 35 - mas com duas filhas em idade escolar e depois de me contar que já foi director-geral da Kodak para o Sudeste Asiático e de que já passou por mais de seis empresas, é bem possível. Falámos da Índia, do sistema escolar, da cultura empresarial, de planos futuros, de religião e da minha viagem e ficámos amigos. Falou-me tão bem das Maldivas que lá vou ter de ir qualquer dia.

Terminado o almoço, entrámos no carro para uma volta ao bairro. Pali Hills (mal comparado será Beverly Hills de Bombaim), uma descida à praia e uma igreja católica com 120 anos onde precisamos de entrar descalços. As despedidas fizeram-se lá para as 5 da tarde e ficou marcado novo encontro para segunda-feira. Regresso ao hotel em primeira-classe no combóio urbano. Uma carruagem inacreditável, verde tropa, semelhante às primeiras que haveria em Inglaterra na Revolução Industrial, ventoínhas penduradas no tecto, anúncios A3 pendurados em todo o lado e a mescla habitual de gente. Sento-me num banco corrido, pouco confortável, a olhar para cinco pessoas penduradas na porta, para o muçulmano ao meu lado e para um velhote que acabou de entrar e que parece saído dum DVD promocional sobre Yoga, de batina branca, duas pintas vermelhas na testa e cabelo e barba longa mas bem aprumada, que devagar tira do bolso o telefone para atender uma chamada.

É sábado à noite mas acabei por ficar no quarto. Comprei a viagem para Calcutá e sigo na terça-feira.

2 comentários:

Anónimo disse...

continua, estão a faltar as fotos!!!

Jovem Herói de Shaoxing disse...

Grande Rui :)

Continua a reportagem, e acima de tudo diverte-te por aí.
Até breve na nossa querida Shanghai

Forte Abraço

Alfredo